quarta-feira, 27 de junho de 2012

A Solidão do Mundo


          Vivemos numa sociedade cada vez mais individualista, num mundo que ao pararmos podemos condenar-nos à nossa própria "morte". "Cada um por si", uma regra que tem vindo a ser gradativamente adotada pela sociedade, onde cada um tem de lutar apenas por si próprio contra todos os outros, que são também obrigados a discutir espaços onde não exuberam lugares para todos. Um mundo competitivo então, onde não há lugar para histórias da carochinha, onde os finais felizes ficam reservados para a fantasia de Hollywood e onde meia dúzia de tostões compram meia dúzia de verdades e uma dúzia de mentiras.

           Nesta sociedade globalizada, a solidão é temida por uns, desejada por outros e ainda um abismo onde muitos caíram. Pois para uns ela é apenas o estado de estar sozinho, sem ninguém para ter  uma simples conversa, sem ninguém para desafogar as mágoas, sem ninguém para o amparar quando mais precisa; para outros é o descanso entre momentos, entre cada dia, é a oportunidade para meditar e refletir sobre si próprio, com o objetivo de também encontrar o ponto de equilíbrio entre si e tudo o que o abrange; para tantos outros é o seu dia a dia, a sua forma de vida não escolhida por eles, mas também onde se ocultam do mundo, provavelmente porque este não lhes transmitiu o que desejavam.

          A solidão não tem necessariamente de ser vazia, pois ela pode mesmo ter a capacidade de preencher um espaço onde mais nada conviria. A solidão pode ser definida em variadíssimos termos, mas tudo depende de quem a vê, de quem a sente e, de quem a tem.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Realidade Encomendada

Impacientemente
Envolvido na verdade,
Perduro persistente
Enquanto a multidão palpita sem finalidade,
Efeito inócuo
Que só provoca imunidade.

Voltámos aos carrascos,
Saqueiam meio mundo
Continuam resguardados,
Imperturbados,
Enquanto uns trajam arman*,
Outros envergam farrapos.

Testemunha calada,
Prova adulterada,
Factos e realidades
Já parecem ser nada,
"Mata o eloquente,
Alimenta o indecente"
Palavras dos mestres
que iludem eficazmente.

Censuram a qualidade,
Patrocinam a insanidade,
Começo a ficar farto de tamanha falsidade.
O crime compensa,
Está na moda a violência,
Até os mestres da nação já nadam em delinquência.

Dois terços na decadência,
Milhões de impaciência,
E os energúmenos falam-nos de clemência?
"É preciso ter consciência,
Clarividência,"
Proferem tudo isto
Mas já só vejo crimes sem sentença.

Se isto for certo
Já nada pode ser errado,
Continuo no caminho
Mas dizem que ando descontrolado.
Por não me vender por "galardões"?
Prefiro passar fome
Que ser ração para passarões.

Não é hora de discussões,
Nem de lamentações,
É tempo de agir
E tomar-mos posições.

Farto de não ver o fim da história...
...Pois já não há memória.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Pontos Sem Ponta

As palavras que tenho para declamar
Perdem-se sempre antes da tua chegada,
Porque tudo o que diga,
E Tudo o que faça,
Talvez nos teus olhos
Não passe apenas de uma farsa.
Mais complicado que esta entrada
É nada.

O medo não é um receio para ti
Nem para tudo que compreendas,
Mas não consigo entender,
O que mais está para acontecer?
O meu remetente é o saudoso anoitecer,
E de algum modo
Ele nunca se irá esquecer,
Da leve sombra
Que quiçá, somente eu consiga ver.

Já não sei o que esperar de ti,
Não sei o porquê de ter que ser assim,
Dúvidas sussurram os sentidos,
Cintilando na ténue teia de mil entrelinhas.
Por ti? Por que não por mim?
A única coisa por que vale a pena chorar,
É nada.

Pedaços que queria ver de ti
Foram e nunca mais voltaram,
Agora tudo o que importa,
É nada.
As expressões que tinha para te dar
Partiram e nunca mais voltarão,
Tudo o que quero ouvir hoje,
É nada.

Não há palavras para retratar a dor
Que amortece o coração,
Enfeitiçado pela maldição,
Escorraçado pela devoção,
Que em cada esquina observa a razão
Sem nunca conseguir obter compreensão.

Apenas posso contar
Que eles não voltarão,
Tudo foi em vão?
A única coisa que vale a pena,
É nada.

Pela honra e pela história,
Pela crueldade que me olha,
Porque ainda estamos nós aqui?
E para onde iremos nós?
A única coisa que vale a pena hoje,
É nada...
E a única coisa que me fará voltar amanhã,
É nada.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Almas Imortais

Imagina que de facto olhamos deste modo para este caminho,
Quer dizer, tecnicamente é seguro,
Será que nunca ouviram isso?
“Atenção caros amigos e amigas”, já dizia o senhor cujo nome desconheço…
É muito melhor levar este tipo de coisas desta maneira,
Porque são muitos, são demasiados
Para sobreviver
E dizer a alguém que ainda tenho esperança de te ver nascer.
Mas nada garantia que 100% seria pêra doce,
Pois nada teria sabor se assim fosse.
Mas aqui reside a quietação,
O senhor autor…
Ele tirará o devido proveito,
Enquanto aproveita para considerar o que não pode exprimir,
Enquanto aproveita para dizer o que devia compor.
Todas as almas revelam a sua natureza quando confiadas,
Mesmo quando a confiança não é merecida.
Não ficámos com alguma coisa por expressar?
A distância aumenta mortalmente…
Mas a distância não é tem tão simples como a separação entre nós,
Lá no nosso aprofundado fundo sem fim,
Não há nada que se entrelace tão profundamente
Como as nossas palavras ocultas,
Que nem precisamos entender,
Pois aquele olhar…
Aquele nosso certo olhar…
Cego… Surdo… Mudo…
Revestido unicamente pela imortalizada telepatia,
Tão impossível como a caminhada sobre as tempestades de mares temperados
Que no arcaico destino desenlaçámos,
Com a palma da mão abraçada aos elos que nos unem
E ao nosso constante e inevitável desejo.
Indeterminada é a lógica,
De o caminho ser ainda feito de desvios e encruzilhadas,
Onde separadamente juntos,
Teimamos superar,
Tal como a fogosa flama
Que anseia um dia ver-nos chegar.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Imersão Fatal

Fatalidade,
Será ingenuidade?
Não, não… É mais falta de credibilidade,
Falta sinceridade
Para chegar à tal felicidade.
E a nossa serenidade?
Amor, carinho e fraternidade,
Teimam em virar falsidade.
Prazer… Vontade…
Quase sempre é quase nada,
Quase nunca é quase tudo,
E quase que por um fio
Quase chega a ser o meu mundo.
Essas plateias,
São estilo prisões desventradas de preconceito,
Mas eu não aceito
Quem nelas escarnece sem preceito,
Perfeito? Jamais!
Mas ainda assim estou satisfeito,
De alguma forma virei a ser o eleito,
Ou não fosse eu este sujeito,
Se não gozasses tu de tanto jeito
Talvez eu vertesse para suspeito.
É certo que engrandeci neste jardim
E surgi para ser assim,
Embora ainda me esconda no minúsculo camarim,
Será por desconfiar o frenesim?
Nesta rima tudo tem um fim…
Quem pode amar por mim?

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Olhares Intemporais

Olhar que assusta
Quem nele projecta seu sentido,
E que faz querer por mais
Desses medos assombrados pela luz.
Tão penetrante,
Que nem a própria espada
Carregada pelo criador,
É detentora de tamanho denodo.
Evidência conturbada pelo temor incontendível,
Contemplado por quem anseia açular
O verdadeiro alicerce da reincarnada paixão,
Desmedida de tempo e vontade,
Isenta de suspeição e iniquidade,
Imersa em benquerença pela eternidade.
Certa incapacidade de traduzir sentimentos,
É a fórmula cordial originada,
Inexplicavelmente, pelos incompetentes cumpridores,
De destinos enigmáticos.
Será a partida para quem ainda não tem meta?
A resposta?
Não, ela não te vai bater á porta,
Mas vai crer em ti até estar morta.
Julgamento?
Atalho engasgado sem fundamento,
Pois nada mais é que encobrir o fingimento.
Sofrimento?
Está latente no sentimento,
Ou não tivesse sido a maçã, mordida pelo pensamento.
A pergunta tornou a assolar,
Desta vez intrigada,
Desta vez seria ela a mergulhar em interrogações,
Ensaiando encontrar o caminho em suas próprias inquietações,
Por aqui, não se recordam mais desilusões,
Constroem-se telas de paixões,
Dando um rumo a infindas visões.
A legendária chama persiste em flagrar,
Na tocha que um dia acendemos
Em homenagem ao amanhã.
Agora já nem há fastio,
Já nem há nada que tormenta
O nosso vigoroso olhar,
Somente quebrado pelo enlace
Que toda a noite, ganha lugar.

sábado, 7 de maio de 2011

O "senhor" da Chave... Felicidade & Acreditar...

A chave? Onde está a minha chave?
Já não a encontro
E já nem o esforço quer ser meu amigo,
Já nem as lágrimas curam a própria dor espalhada.
Aquela tal força de possibilidades
Encontrada um dia perdida,
Parece desejar fugir novamente
Com os seus intérminos devaneios.

Cansaço,
Palavra-chave, mas que teima em não entrar na fechadura certa
E talvez ele tenha razão,
Aquele senhor cujo o nome desconheço, ainda hoje disse
Que possivelmente nem sete chaves a abrirão,
E se eu procurar a oitava?
Será que seriam oito razões incontestáveis?
Sim eu interroguei-o de novo
E com temor das suas próprias sentenças ele proferiu:
"Bem, parecem inacabáveis,
Mas sabes, as chaves de nada servem se a fechadura não existir
E se não houver ninguém que as faça, também não entrarás.
Olha para ti, a tua porta já nem aberta está,
Ela já nem sequer existe
Depois de tantas vezes a teres inaugurado.
Não reparaste?
Amputaste a porta quando estavas no teu sono
Simulando a querença de que esse alguém entrasse no teu pesadelo,
Sem notar que sem intenção a realidade também ficou aberta."

Viste se alguém chegou a entrar?
Esteve alguém à espreita com medo do que encontrar?

"Sim encontrei uma pegada que estava prestes a te achar,
Mas teve medo, teve muito medo de te acordar,
E de depois sentir que lá não poderia estar"

Chegou-me a acarinhar?
E porquê? Porque a deixaste escapar?

"Sente á tua volta, sente este cheiro que ela deixou cá ficar,
O seu suave carinho, sim, ainda te abraçou fortemente,
Como se nunca mais o pudesse fazer,
Não acordaste porque pensaste que estarias a sonhar.
Eu apenas lhe disse que o seu esforço definiria a sua vontade,
E eu sei, eu agora apenas sei que essas palavras ficaram em seu pensamento."

A sonhar sim... Agora me recordo,
Como poderia eu não estar a sonhar,
Se nada mais me pode fazer acreditar,
Que na capa, a felicidade ainda posso estampar.

Olha comprei um livro, sem letras,
Simplesmente páginas esbranquiçadas o descrevem.
Notei que ele veio ter comigo,
E apenas tinha uma pequena folga a pedir que eu lhe desse o título.
Havia espaço para dez pequenas letras.
Automaticamente, e quase sem saber como, a caneta apoiada em minha mão as escreveu.
Lembraste daquela palavra?
Aquela que um dia te disse que para sempre com ela queria perdurar.
Nem precisas de te pronunciar, eu sei que tu sabes do que estou a falar.
Mas o pequeno livro ainda tinha mais um desejo a cumprir,
Para assim eu nunca mais o deixar fugir.
Queria apenas mais uma pequena palavra nas suas próprias costas.
Não me disse qual era, mas assim que olhei determinei escrever "Acreditar".
Somente mais uma coisa ambicionava, fosse qual fosse o seu futuro e eterno conteúdo,
Que nunca entrasse em desacordo com estas duas pequenas e colossais palavras.
Mal ele sabia que eu também tinha uma ambição, e a minha era cumprir a sua.
Bem o céu já está a clarear, tenho de me ausentar,
Talvez amanhã voltemos a falar.

08/03/2011